Banco de Jardim

Banco de Jardim

 

Lembro-me dos tempos em que escrevia poesia num banco de jardim.

Foi noutra vida, era outro eu.

Lembro-me dos tempos em que me deixavam poemas num banco de jardim.

Foi um desses acasos extraordinários, daqueles que me fazem viver.

Dois estranhos de realidades paralelas que, um dia, se cruzaram num banco de jardim.

Dois estranhos com um segredo, que partilhavam um momento, ali, naquele banco de jardim.

E todos os dias, durante o tempo em que a música durou, corria rua abaixo, até à beira rio, a ver se o acaso me tinha trazido fortuna.

Havia dias sem novidades, mas eram esses dias que traziam sentido às palavras. Era a espera, a antecipação, a esperança que o último poema, não teria de facto sido o último.

Até que esse dia chegou. Li último poema, sabendo que seria último.

Como a própria existência, que só existe durante um momento.

O meu coração ficou nesse banco de jardim e, desde então, procuro o desconhecido.

O desconhecido que ouve a mesma música, esta melodia de tocar poemas num Banco de Jardim.

 

 

Garden Bench

 

I remember the days I wrote poetry on a garden bench.

It was in another life, it was another me.

I remember the days when someone left me poems on a garden bench.

It was one of those extraordinary accidents, the ones I want to live for.

Two strangers from parallel realities who, one day, crossed paths on a garden bench.

Two strangers with a secret, who shared a moment, there, on that garden bench.

And every day, while the music lasted, I would run down the street, to the riverside, to see if chance had brought me fortune.

There were days without news, but those were the days that brought meaning to the words. It was the waiting, the anticipation, the hope that the last poem would not, in fact, have been the last.

Eventually that day arrived. I read the last poem, knowing it would be the last.

Like existence itself, which only exists for a moment.

My heart stayed on that garden bench and since then I've been looking for the unknown.

The stranger who hears the same music, this melody of playing poems on a garden bench.


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