O dia em que ouvi o vento

 O rio nada para cima. Será um presságio que o
mundo se vira ao contrário?
Segue no colo do vento, arrastado por uma corrente
desejada. As ervas e as copas das árvores, lá de
cima, dançam em tom coordenado.
O vento é a alma da Terra, a consciência eterna de
todas as coisas e de todos os seres. Trás consigo os
antepassados e os posfuturos que, sussurrando
gentilmente ao ouvido, atravessam o ser, num arrepio
bem-vindo.
Conta histórias e profecias, mas quem o entende
além das folhas? Acho que, algures no tempo,
desaprendemos a ouvir o vento.
Às vezes ouço-o gritar, a plenos pulmões, numa
tentativa desesperada de nos captar a atenção. Mas,
em vez de ouvir, escondemo-nos a sete chaves na
nossa profunda ignorância, amedrontados do que
não conhecemos.
Hoje, no dia em que o rio nada para cima, ouvi o
vento numa melodia translúcida: "numa quietude
inquieta, observa, absorve e questiona e, quando o
mundo se virar ao contrário, não tenhas medo do
desconhecido, envolve-o num abraço e ouve, só."

Comentários

Mensagens populares deste blogue

April

Névoa

O Sol foi embora