No dia em que o deixaste cair

Emprestei-te um pedacinho do meu coração e tu deixaste-o cair. Felizmente, não se partiu - era um pedacinho leve e a gravidade não teve grande efeito. Também eu sou desastrada, por isso compreendi. Às vazes as coisas escorregam, escapam-se entre os dedos e os nossos reflexos, entorpecidos por fatores externos (às vezes internos) não dão conta do recado. Ainda assim, assustei-me perante a possibilidade de ver aquele pequeno pedacinho de mim estilhaçado no chão. Achei melhor pedir-to de volta: talvez para o guardar numa gaveta segura; talvez para o entregar a alguém com as mãos mais firmes, com uma reação mais apurada. Não me magoou que o deixasses cair, mas fiquei triste, um tanto desiludida, por to pedir. Sempre acreditei que mo devolvesses num ato memorável de uma peça extraordinária. Tive que aceitar a mediocridade e não me lembro de nada mais triste do que o ordinário. Acredito que continues a ser um semi-deus - afinal não é a tristeza de uma pequena rapariga que tem o poder de mudar o que as coisas são. Mas, aos meus olhos, agora és apenas um comum mortal de mãos escorregadias. 

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