Carta ao Pai Natal

 

Querido Pai Natal,

 

Já lá vão uns aninhos... Espero que ainda te lembres de mim – era aquela miúda que pedia sempre Barbies, ou casas da Barbie, ou roupas da Barbie ou carros para a Barbie; que demorava mais tempo a construir os cenários, a decorar as casas e a fazer-lhes roupas do que a brincar com elas. A coisa não mudou muito, na verdade. Continuo a construir cenários, a decorar casas e a fazer roupas. Continuo a mesma princesa maria-rapaz e os meus sonhos continuam a mudar a cada dia. Ainda quero ser poetisa e pintora, estilista e bailarina, cientista e atriz. Ainda quero ser tudo. Ainda não sou nada.

É por isso que te escrevo – isso e porque perdi um jogo de Poker. Não sei se vou atrasada, porque o Natal já passou, ou se ando adiantada, porque o Natal ainda não chegou. Não sei se estou na lista dos meninos bem-comportados ou na lista dos patifes. Se houver uma terceira, penso que me encontrarás por aí. Também não sei se ainda tenho idade para te escrever ou, tão pouco, se ainda existes.

Sei que não sei muita coisa, mas entre as muitas incertezas que tenho, sei que nunca é tarde sonhar e que a mais ínfima possibilidade é o bastante para tentar. E, se não resultar, haverá outras formas de o alcançar.

O meu pedido, para este ano, é que me ajudes a ser. Quero ser tudo o que possa ser.

Alguma coisa, mais do que sou, melhor do que fui.

Quero ter camadas e texturas, profundidade e leveza. Quero continuar uma criança feliz, quero ser uma mulher sensata. Quero ser mais, para poder fazer melhor.

Quero pintar o mundo à minha volta, com sorrisos e memórias, com sabores de todas as cores. Às vezes, perco-me no meu bonito mundo caótico e, como quero ser tudo, acabo por ser nada. Preciso, por isso, do teu presente. Preciso de ajuda, de direções, de pequenas indicações. Preciso de serenidade para manter a sanidade e ser tudo aquilo que quero ser.

 

Um abraço apertadinho,

Catarina João

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