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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

A noite está fria

A noite está fria. Ainda assim, sento-me cá fora, na erva bravia. Hoje não há nuvens e posso admirar o céu estrelado. Sinto o corpo gelado. Mas está tudo bem, ainda o sinto. É um espetáculo delicioso. Frio cortante, estrelas brilhantes... As sombras da floresta que, ao longe, me enchem os ouvidos de murmúrios indecifráveis, de ecos selvagens. Há água a correr. Há cães a ladrar. A noite escura, mesmo sem lua, é minha amiga. É fiel conselheira. Tem olhar meigo e ternurento, trás alento no seu abraço. A noite está fria. Ainda assim, aquece-me a vontade, trás serenidade. Vou dormir com a felicidade segura, com a certeza absoluta de que amanhã também haverá noite. Boa noite, noite de hoje.

Metades de Kiwi

Cortei um kiwi ao meio e comi a primeira metade. Foi festa de frescura e doçura na minha boca. Precipitei-me para a segunda parte e, à primeira colherada, veio a surpresa: tinha outro gosto, sabia diferente. Não era melhor nem pior, apenas diferente. Mais ácida, menos suave. Mas eu, que até prefiro kiwis verdes, gostei-lhe do gosto. Enquanto comia aquela agradável amargura, questionei-me como poderiam duas partes de um todo saberem tão diferentes. Não tentei encontrar uma resposta, mas desejei ser aquele kiwi. Espero que eu, como um todo, também tenha metades, terços e quartos, recantos e pedaços que saibam diferente.

No final da rua

No final da rua, na pedra escura, esperava   a menina de face rosada e lábios de tinto. Os olhos de longe eram labirinto de sonhos e de sofrimento. De fogo e atrevimento. No final da rua, na pedra escura, sonhava   que amava, sonhava que a queriam. (Talvez estivesse   errado, talvez apenas quisesse ver o meu ser   espelhado) No final da rua, na pedra escura, um carro parou e a menina entrou. Não tentei adivinhar   para onde ia. Não esperei   que pudesse voltar. Segui o caminho, e quando cheguei ao   fim da rua, olhei para a pedra escura que me suportava. Percebi que   aquela pedra era tudo que realmente importava.