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A mostrar mensagens de fevereiro, 2019

Neurónios danados

Devia dormir, parar de sentir. Mas não consigo calar aquela voz infernal, que não sabe ir embora. Hiper-atividade cerebral oscila, vacila,   navega entre o que já foi e o “agora”. É hora   de apagar. Neurónios danados, que na hora de descansar ficam todos excitados. E eu viro neurótica, Rebolando, bufando… (E depois há quem se queixe que me apeteça gritar.) Não dá para deixar de pensar. Não consigo não imaginar   “ses”: Se fizesse, se não tivesse feito. Se quisesse, se houvesse efeito. Raio de possibilidades, um mundo de probabilidades. Como posso fazer tudo, acabo por não fazer nada.

Margarida de Alma Inquieta

Desconfio que tenha a alma estragada. Fui levada a querer que o prazo de validade destas coisas seria maior. 70 anos talvez… 90 a correr bem. Não encontro a data de expiração na embalagem, mas 30 anos parece-me aquém. Escrevi uma carta ao fornecedor a pedir reparação. Ou quem sabe uma substituição completa, e fica o problema resolvido. Uma nova vinha a calhar… Uma que nunca tivesse sofrido, que ainda fosse capaz de amar. É que esta, já a sinto desbotada, sem cor. Creio até que já tenha ganho bolor. Fungos nos lugares mais profundos, onde nem a felicidade momentânea, daquela instantânea, já pronta a usar, lhe consiga de tocar. Tornou-se nesta coisa obsoleta, de vontade incompleta. Nem faz, nem deixa fazer. Nem sente, nem deixa sentir. E eu é que me lixo. Que, por ter uma alma defeituosa, quase já não existo. Vivo neste estado apático, num ritmo sistemático. Sol ou chuva, dia ou noite. Tudo é indiferente,   dent

Palavras difíceis

Por favor ofereçam-me um dicionário. Preciso de vocabulário. Preciso de mais palavras. (E se as virar ao contrário?) Quero sílabas complicadas, E soar mais imponente. Quero brincar com as letras, Ser mais eloquente. Estou a ficar repetitiva, Usando as mesmas rimas. Sou refém das mesmas frases. Só exporto ideias primas. Parece que não há fases, Que não consigo crescer. O meu cerebro é circular, Volta sempre ao mesmo lugar. Quero sair desta prisão, Sou vítima da criação. Se criar uma vez, crio essa vez para sempre? Não aceito. Não aceito tal logro da mente. Vou ler o dicionário. Vou encontrar palavras escondidas. Vou às famílias misteriosas, Em páginas incompreendidas. (Afinal não somos apenas palavras difíceis?)

Intensidade

Intensidade: Não consigo ser metade. (Ou tudo; ou nada) E se é para ser, Que seja verdade. Não tenho meias-medidas, Não penso em contrapartidas. Não meço consequências, Não gosto de reticências. (Ou tudo; ou nada) Se é para fazer, Que faça na hora, Se é para sentir, Que sinta agora. Intensidade: Sou anti-banalidade. Ou salto ou nem tento. Ou deixo a alma, Ou não experimento. (Poderá seguir-se o  arrependimento. Reparem: quando se salta sem medir a altura, É expectável que se sinta amargura. Mas a existência da possibilidade, De um ínfimo instante de felicidade, Faz-me esquecer o sofrimento. A probabilidade futura, continua fechada numa gaveta segura. O arrependimento ficará, por isso,  Guardado  para outro momento)

A música da chuva

A música da chuva É de tom aconchegante, Envolve-me num abraço, Num imaginário reconfortante. (E sem me aperceber, Vou mergulhando no silencio.) O escuro vai sendo diluído, E surgem imagens, Cenas de um futuro perdido, Onde o tempo não tem viragem. Um clarão. Uma súbita aceleração. Abro os olhos, E chega o trovão. O meu corpo estremece, Mas não tenho medo. Sinto-me extasiada Com tamanha força cantada. O rugido dos céus, Lembra-nos o seu poder. Somos pequenas formigas, Que brincamos a Deus.